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Um conselho às montadoras
Não é bom ser conselheiro. Você faz e pronto. Quem tiver olhos para ver, verá. Antônio Conselheiro enveredou por esse caminho e terminou trucidado. Empreendeu um bem sucedido projeto social e foi desproporcionalmente nivelado. Do grupo dos desgraçados, sobraram apenas uma criança, um velho trôpego e o corpo inerte do sonhador. O medo que a República não se consolidasse levou à carnificina (o pregador era franca e abertamente a favor da monarquia). Tantos intelectuais, tantos titulados, tantos abastados, tantos príncipes coroados, não da monarquia derrubada, mas das monarquias várias privilegiadas, tantos, ah, tanta gente! E ninguém colocou de fora a cabeça para mediar uma solução humana para o conflito. Arrasaram o Arraial de Canudos, para consolo dos sobreviventes parentes ou dos que porventura tinham saído do arraial na hora fatídica, na terceira ou quarta investida. Foi preciso uma operação de guerra com generais, coronéis e estado-maior para apagar o sonho do Conselheiro.
Mesmo assim, e com licença dos leitores atentos, arriscamos nós um conselho às montadoras. Retiramos conselho e colocamos um adjutório que significa ajuda. Aprendi esse vocábulo com seu Manoel Boqueirão, caseiro da roça de seu Hipólito, ao lado da casa onde eu morava com meus pais e meus irmãos em Salvador. Seu Manoel, meu amigo de início, amigo da minha infância, pronunciava “djutório”. Tenho ouvido o termo algumas vezes por aqui no sertão.
Vamos ao conselho, agora devidamente conceituado e, quero crer, aceito em unanimidade: as montadoras podem, a partir de agora, economizar. Quando a gente vai comprar um carro novo, sabe que o preço fornecido é simbólico. No mínimo um terço da figura (para mais) terá que ser desembolsado em accessórios – que já deveriam vir fornecidos para todo e qualquer comprador. Concluímos, portanto, que a supressão de alguma coisa no veículo fatalmente cortará custos para o fabricante. Direto ao assunto, os veículos vendidos em Paulo Afonso não precisam da quinta marcha, se é que precisam da quarta. Com quebra-molas competentemente instalados a cada duzentos metros, em média, nas nossas ruas, para que a quinta marcha? Na falta dos monstrengos, redutores outros que as autoridades nos enfiam goela abaixo. Como tudo que é ruim tem um lado bom, ganham os donos de postos com o maior consumo de combustível, os profissionais do alinhamento de pneus, os ajustadores da suspensão e os vendedores de baterias que são carregadas deficientemente em baixa velocidade.
Lei é lei, dura lex, e vamos levando. Afinal de contas, vivemos em comunidade, temos que ter paciência uns para com os outros, e nós não somos, de per si, moduladores do mundo ou das outras pessoas. Feliz do artífice que pode moldar o barro. Feliz do cidadão que sabe conviver.
Velocidade, controle e paciência. Mobilidade urbana, tão na moda da Copa do Mundo mais uma vez no Brasil. Em Minas, caiu um viaduto inacabado do pacote. O metrô de Salvador, também do pacote, não andou até agora. O povo tem que ir para o estádio, que querem agora que chamemos arena, a pé ou imoralmente comprimido dentro dos ônibus raramente novos e confortáveis.
Fica, acima, o conselho aos fabricantes de veículos a quem até agradecemos a sanha de querer vender mais. A Dona Dilma também agradece. De cada unidade vendida, cerca de 40 % (quarenta por cento) vão para os cofres do governo. Se bem aplicados, por isso agradecemos nós. Para pagar a sangria da dívida interna, agradece Dilma Rousseff.
Entramos em uma seara que alguém pode argumentar não ser a nossa, leitor. Podemos ter arranjado encrenca. Mas falamos. Ou não estamos aqui para falar?
Francisco Nery Júnior
1 Comment
Leitor, o site já deve estar providenciando a correção de um erro de grafia que passou. Desculpe-nos a falha. No lugar de ceara, considere seara. Um abraço.