Entrevista com Pe. Celso: “A esperança de Deus não decepciona, não falha, está sempre presente”.

 Entrevista com Pe. Celso: “A esperança de Deus não decepciona, não falha, está sempre presente”.

Na última sexta-feira, 26 de setembro, Pe. Celso esteve ao vivo no Programa Cristo Redentor dos Homens (RBN),para falar sobre a festa do Padroeiro de Paulo Afonso, São Francisco de Assis, que teve sua primeira noite no dia 25 e vai até o próximo dia 04 de outubro. “A festa de São Francisco acontece com vários eventos: exposição sobre sua história, com o SESC, Chesf, livrarias, comidas típicas além de atrações musicais” disse o pároco enquanto convidava os ouvintes para festa do Padroeiro de Paulo Afonso.entrevista de padre celso na rbn

Durante a conversa Pe. Celso destacou a vida do Santo relacionando-o com os problemas que enfrentamos hoje. “Vamos trazer o pessoal da Fazenda Esperança para falar sobre drogas, vamos conversar sobre as possibilidades de enfrentarmos a dependência, o que havemos de fazer com as crianças e adolescentes para mantê-los distantes” explicou. “São Francisco é um exemplo maravilhoso porque se relacionava positivamente com seres humanos, com Deus e os amigos, esse era o seu estilo de vida” acrescentou. Acompanhe a entrevista na íntegra abaixo:

Ivone Lima – Como está a Comunidade de São Francisco de Assis neste momento da festa do Padroeiro e de onde vem à tradição de festejar?

Pe. Celso – Nós iniciamos o novenário no dia 25 de setembro e acho que um ponto importante é lembrarmos que as festas nasceram do povo da bíblia, portanto, trata-se de uma manifestação bíblica – algumas pessoas perguntam por que se faz?-, acho interessante esta curiosidade. Se acompanharmos os Evangelhos veremos que Cristo ia para as festas, sua família sempre participava das festas do seu povo. No Antigo testamento também há registro de grandes festas, por exemplo, a Páscoa, entre outras grandes festas que os antigos faziam.

Nesse momento as pessoas se encontram e alegria da vida se renova, as festas nascem então para celebrar a grandeza de Deus, seu amor e a presença de Deus na vida, portanto, as festas bíblicas teem esse sentido. Além de ser maravilhoso podermos nos encontrar e falarmos de coisas interessantes, não esquecendo as comidas como manda a tradição tanto bíblica como nordestina, posso dizer que é um tempo maravilhoso para a vida e como ser humano celebramos.

Ivone Lima – Quando foi que esta festa aconteceu pela primeira vez e como São Francisco de Assis se tornou Padroeiro de Paulo Afonso?

Pe. Celso – O Rio São Francisco foi encontrado, mais especificamente o navegante Américo Vespúcio, no dia 04 de outubro, e o Rio ganhou esse nome por ser o dia de São Francisco.

O Rio São Francisco é extremamente importante pela extensão de água em terras semiáridas, por levar água para lugares secos, essa é sua missão. Portanto, aqui em Paulo Afonso quando começou os trabalhadores da Usina foi construída uma Igreja e esta dedicada a São Francisco, assim aconteciam às festas para congregar os trabalhadores da Usina, era a grande oportunidade de superar mágoas, problemas e rancores, em resumo, nascia à festa para integrar tanto os que aqui já estavam como os que chegavam para trabalhar. Sem ter muita certeza, precisaria de uma fonte para assegurar, tudo leva a crer que a Festa de São Francisco é o evento histórico mais continuo da cidade.

Ivone Lima – Alguns padres foram importantes neste processo até a festa se tornar tão grandiosa, qual o senhor destacaria?

Pe. Celso – Depois a festa passou a ter um sentido bastante interessante, o Pe. João Evangelista foi muito importante para Paulo Afonso, veja só, foi ele quem teve a ideia de fazer as Casas da Criança – que eram locais de educação pública – a escola aqui em Paulo Afonso era para funcionários da Chesf ou escola particular. Pe. João Evangelista foi animando a ideia de escola pública, então as festas de São Francisco era o momento de arrecadar fundos para manter as Casas da Criança.

Ivone Lima – Como foi o caminho para se separar a festa do padroeiro da profana?

Pe. Celso – É uma história longa, porque depois desse tempo do Pe. João Evangelista, a festa passou também a ser usada como um momento em que se dava visibilidade ao trabalho pastoral, então se trabalhava assuntos pastorais e relativos à Diocese, principalmente na década de 1980 até 1990.

Aqui no Nordeste existe um costume, por exemplo, nas cidades de Petrolândia ou Tacaratu – aqui próximas -, durante a festa do padroeiro há concomitantemente a festa profana, talvez por ser a oportunidade de se fazer uma festa com essa estrutura, não é o caso de Paulo Afonso,  aqui há outras festas que são realizadas, até por se tratar de um povo festeiro.

Cheguei aqui há dez anos e fomos avaliando se era conveniente, também pelo viés bíblico houve essa mistura: Jesus chega ao Templo e vê em volta um comércio, quando ele expulsa todo mundo, um ato bastante forte, também Cristo procurou resgatar a ideia que o Templo é a Casa de Deus. Então fomos movidos por esse pensamento, há festas profanas suficientes, época de novenário não é conveniente nem evangelizador fazê-las ao mesmo tempo.

Ivone  Lima – A palavra “esperança” está presente em todas as Celebrações tem haver exatamente com a história de São Francisco ou é o momento que pede?

Pe. Celso – Até o Papa também pediu que fosse trabalhando essa questão da esperança, existe no mundo inteiro o medo do futuro. Há um fenômeno grande hoje com o alto número de suicídio entre os jovens, e esse é o sinal de ausência de esperança, de confiança na vida e no futuro da vida.

Então nós resolvemos abraçar esse tema, São Paulo na sua carta aos romanos (Rom 5,5) diz o seguinte: “A esperança de Deus não decepciona, não falha, está sempre presente”. Por isso abraçamos esse tema, e olhando onde nasce a esperança?, descobrimos que está nos relacionamentos, se uma pessoa tiver relacionamento positivo terá esperança,  quer seja em família, com amigos, companheiro (a), no espaço onde trabalhamos e moramos, para não se frustrar. Se relacionar com Deus é enfrentar as dificuldades e sofrimentos com Deus.

Ivone Lima – Onde falhamos que ao longo da nossa existência esquecemos precisamos ter essas relações quer seja com o próximo ou com a natureza?

Pe. Celso – O ser humano necessita de educação sempre, então tem coisas que devem ser ditas e retomadas constantemente. Temos um vazio muito grande sobre a relação que devemos ter com a natureza, por exemplo, achamos que pelo fato do Brasil ser grande e ter água isso nunca acaba, e vemos países pequenos cuja população vive economizando porque já sente que suas reservas diminuíram.

Os recursos naturais já começam a nos dar sinais, a nascente do Rio São Francisco secou, não significa que o Rio irá se acabar – até porque é alimentado por outras nascentes e rios, contudo, é um símbolo enorme, onde nasce o Rio já começa a se acabar.  Há também a possibilidade de que os movimentos das rochas impeçam da água voltar, de qualquer forma é um indicativo que o Rio pede nossa ajuda, devemos, portanto, conservá-lo.

PASCOM

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