Cidade suja

 Cidade suja

A cidade está suja. É primavera em clima de verão, quiçá outono, folhas caem, flores despencam embora enfeitando o ambiente para quem sabe ver. Mas a sujeira referida em título não é essa. Incompreensível a quantidade de monturos de todos os tipos espalhados pela cidade. Estão lá, o leitor pode constatar, esperando a coleta da prefeitura. Na cabeça do munícipe, é obrigação da prefeitura coletar. Então ele amontoa todo tipo de sujeira na frente da casa. A minha rua está uma tristeza. Está feia, como feia sempre estiveram as ruas de algumas cidades próximas de nós.

O desânimo para esperar uma solução por parte do poder público se estabelece quando temos notícias de cortes no Orçamento Municipal. Árvores estão morrendo em consequência da diminuição do número dos carros-pipa encarregados da rega dos nossos jardins. Jardins em zona de seca têm que ser regados. Ou optamos por não ter jardins!

Espanta ao visitante ver seres vivos os crótons, árvores e grama morrendo por falta d’água bem ao lado do maior rio inteiramente brasileiro. Como a ilha morrer de sede o seu acervo vegetal quando ela está cercada exatamente por água?!

Podemos, sim, fazer um pouco de diferença: deixando o cobrar ferrenho, às vezes raivoso, à prefeitura, podemos colaborar (sem fraquejar na cobrança responsável àqueles que foram eleitos para administrar os recursos ferrenhamente arrancados dos nossos bolsos) fazendo um pouco a nossa parte. Podemos chamar o carroceiro que passa, pagar alguns reais, e nos livrar do lixo que botamos para fora da nossa casa. Estamos com isso fazendo justiça social. Com dez ou quinze reais ele faz isso. Alimenta a sua família e complementa o Bolsa Família que recebe do governo. Podemos acrescentar uns dois reais para o milho do burro. Podemos também colocar um pouco d’água na árvore em frente à nossa casa ou em frente ao nosso estabelecimento comercial. Afinal, quem mais se beneficia com a sombra e a beleza de uma árvore é quem está perto dela. Não dá para acreditar que uma árvore, um ser vivo, pene até a morte embaixo dos narizes de dezenas de pessoas que não têm nem olhos para enxergar, nem sensibilidade para se movimentar; colaborar.

Se nisto que vos digo vos ofendo, não foi intenção minha ofender-vos”, escreveu Voltaire. Vamos, então, descer um pouco mais em direção ao centro, nos deliciando com o lindo desabrochar das flores e folhas amarelas dos nosso ipês. O espírito se embebeda. A alma se enche. O amor ao próximo desperta. Vamos felizes. Dobramos para o centro e encontramos amigos e pessoas no afã de ir e vir. Lutam pela vida consolados pela dádiva e pelo amor de árvores plantadas para isto. Bem no centro, lembranças dos primeiros imigrantes pioneiros, alguns dos quais já se foram. Sentadinho na beirada da Praça do Trabalhador, não mais seu Assis a dar razão lógica a tudo isso, abençoando, com o seu olhar passivo, o nosso caminhar.

Então, deixando de lado por um pouco a lógica da cobrança a quem deveria cumprir bem a sua obrigação a ferro e fogo, otimizando os recursos, sejam eles parcos ou abundantes, vamos lá, colaboremos para o bem-estar de todos que têm o privilégio de morar em Paulo Afonso.

neryFrancisco Nery Júnior

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