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Ivone Lima na Apolônio Sales os assaltos
Irene preta, Irene boa, Irene sempre de bom humor. Imagino Irene entrando no céu: Dá licença, meu branco? E São Pedro bonachão: Entre, Irene, você não precisa pedir licença. (Trecho de Manuel Bandeira)
Ivone, nome que também começa por I, é o nome de uma jornalista assaltada na Avenida Apolônio Sales num desses últimos dias às 18 horas e meia conforme nos diz um site abrangente da cidade.
Imagino Ivone andando na Apolônio: sapatos adequados, devidamente recomendados pelos peritos em andanças, método mais conhecido no momento para manter a forma (a vassoura, o espanador e a bucha de pratos andam meio desprestigiados). Mas continuo a imaginar a nossa Ivone que quero crer a mais nova amiga minha e do leitor. Ivone vai. Lá vai ela. A calça é aquela que já nos acostumamos a ver. Colorida e imitação quase perfeita de determinadas cascas de cobra ou, para agradar melhor, imitação engenhosa das belas plumagens dos nossos pássaros tropicais. A gente, quando sai da nossa zona de conforto (estamos no centro do mundo), sente falta, muita falta, do nosso verde; das nossas florestas e do nosso conforto. Continua Ivone de cabelos presos a dispensar na trilha algumas calorias indesejadas. Lá vai Ivone feliz da vida a caminhar em uma pista de uma cidade que reputava segura. Cabelos ao vento, embora agora presos, lá vai Ivone.
A certa altura, já em delírio de prazer, caminhando ao lado de pessoas de boa vontade, amantes da liberdade e do culto sadio à beleza do corpo, devidamente influenciadas pela cultura milenar dos gregos, Ivone é despertada desse sonho que raramente temos o direito de desfrutar. Ivone foi assaltada!
Um assalto é um assalto. É a negação da liberdade que nos foi outorgada a partir dos deuses da criação. Reduzamos deuses para Deus na nossa crônica. Ivone foi bruscamente cortada do uso dessa liberdade em segurança. Não me interessei em ler mais adiante sobre a qualidade de quem se arvorou o direito de podar pela raiz a liberdade e o encanto que Ivone desfilava na pista de esperança da nossa mais famosa e bela, embora descuidada e pouco arborizada – avenida.
Mas que lugar e que pessoal é esse em que vivemos e com quem convivemos que não reagem?! As pessoas estão tão incompreensivelmente resignadas, que não reagem. Poderiam exigir proteção de quem tem a obrigação e o dever de nos proteger. Alguns protegem, até com a própria vida e risco. Protegem. Sim, protegem. Poderíamos seguir nessa diatribe do grito. Mas prefiro, com o leitor, a declaração de estar impressionado com a falta de reação. Eu quero dizer reação direta. O que é isso que ninguém reage? Sem reação, os que odeiam a lei deitam e rolam. Está havendo muitos assaltos na Avenida dos Ipês que leva ao IFBA. Por que alguém de peito (estamos em uma região de pessoas de peito) não começa a deslizar pra lá e pra cá na avenida, uma verdadeira ratoeira itinerante, ratoeira viva, à espera do rato racionalmente decidido a viver do esforço dos outros? Ser assaltante é um ato de decisão. Não é um ato de pobre. Se assim fosse, seríamos muitos de nós assaltantes. Pegado o rato, rato quebrado devidamente tratado. Esse rato passaria a pensar duas vezes antes de assaltar. Que é isso de atirar aleatoriamente dentro de um supermercado? Esbofetear de forma covarde uma senhora de 70 anos, estuprar mulheres por ser mulheres, retirar de forma absolutamente vil o esforço do outro, matar, vilipendiar, odiar e destruir?
Poderíamos pensar em reagir. Um passeio histórico mostra que a reação pode demorar, mas vem.
Por Francisco Nery Júnior