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Aproxima-se desfecho da Chacina da Gruta após 13 anos
Treze anos e um mês depois que tombaram os corpos da deputada federal e de mais três pessoas, para parentes das vítimas, finalmente, aproxima-se um desfecho que pode pôr fim há mais de uma década de impunidade.
O resumo de tantos anos de espera e angústia foi dito pelo filho da parlamentar querida na região onde nasceu e cresceu e que ganhou admiradores expressos em números: quase 60 mil pessoas escolheram Ceci Cunha como deputada federal. A primeira mulher alagoana a assumir o cargo. “Depois de treze anos, chegamos ao final de uma história sofrida. Muito sofrida. Esse movimento não é apenas da família, mas também da sociedade, que cobra que os responsáveis pelos crimes sejam punidos”, declarou o advogado Rodrigo Cunha, filho de Ceci.
O advogado, atual superintendente do Procon em Alagoas, tinha 17 anos quando perdeu a mãe, o pai e outros parentes. Estava num momento importante, prestaria o vestibular, planejava a vida profissional. Perdeu laços não apenas pelos tiros disparados pelo grupo criminoso. Mas também os que morreram definhando por causa da dor e da impunidade. “Para mim foi muito difícil nos primeiros anos. Depois de um tempo para cá virou saudade”.
Revolta
A revolta e indignação deram lugar a coragem de pedir justiça. A dor cedeu lugar ao inconformismo diante de tal brutalidade. “Alagoas tem que ser conhecida pelas suas belezas e não pelos crimes de pistolagem. Foi um crime contra quatro pessoas de forma brutal”, lembrou o advogado.
Rodrigo lembrou a motivação da chacina da Gruta, como ficou conhecido o episódio. “Quem matou minha mãe perdeu a eleição e queria o poder. Ele chegou a assumir o cargo de deputado federal e depois foi cassado”, disse Rodrigo, referindo-se a Talvane Albuquerque, acusado de autoria intelectual. Desde o acontecimento ele quase não anda mais em Arapiraca. A segunda maior cidade de Alagoas, terra que abraçou e ajudou a eleger sua mãe – que nasceu em Feira Grande – também são vistos os acusados pelo crime. Todos respondem em liberdade e por vezes são encontrados circulando pelas ruas da cidade arapiraquense.
Sem referência familiar após a morte dos pais, Rodrigo casou e foi “adotado” pelos sogros. A irmã já era casada. “Sempre tivemos apoio para ver condenados os assassinos da minha mãe”.
De treze anos para cá outros casos de crimes políticos foram acontecendo em Alagoas, rotulando o estado por seus crimes de pistolagem. “Tenho certeza que a impunidade gera violência. Não adianta investir somente em armamento. Em Alagoas a bala tem endereço certo. É isso que diferencia aqui dos outros estados”, acrescentou Rodrigo.
História
Na noite do dia 16 de dezembro de 1998 a imprensa anunciava um crime que marcaria para sempre a história de Alagoas. A brutalidade do episódio conhecido como “chacina da Gruta” escandalizou a sociedade e um dos seus mais importantes capítulos acontece em 16 de janeiro, quando serão julgados na Justiça Federal, em Maceió, os acusados pelo crime.
Horas depois de ser diplomada, a médica e deputada federal Ceci Cunha resolveu passar na casa da irmã para retirar os pontos da cirurgia em decorrência do parto que Claudinete Cunha tinha feito há pouco tempo. Lá a parlamentar foi executada junto com o marido Juvenal Cunha, o cunhado Iran Carlos Maranhão, e a mãe de Iran, Ítala Maranhão.
O Ministério Público Federal (MPF) apontou o suplente de Ceci, o também médico Talvane Albuquerque, como mandante do crime. Na interpretação do MPF, ele queria assumir o cargo – a todo custo – e a morte da deputada seria a oportunidade. Os assessores e seguranças de Talvane, Jadielson Barbosa da Silva, Alécio César Alves Vasco, José Alexandre dos Santos e Mendonça Medeiros da Silva foram apontados como os matadores. Todos chegaram a ser presos, mas ficaram pouco tempo atrás das grades.
O julgamento
Hoje, Rodrigo Cunha tenta levar uma vida normal. Apesar de não ir mais a Arapiraca – ou ir em apenas casos excepcionais – ele diz que chegou a receber recados para que tomasse cuidado depois que resolveu encampar a luta por justiça. Chegou a pensar em deixar Alagoas, mas recuou da decisão “Diferentemente da minha mãe, tomo cuidado com a minha vida. Agora estou dedicando todas as minhas energias para este julgamento. Chamo todos os alagoanos para este julgamento”.
Uma das principais testemunhas do caso, a irmã de Ceci, Claudinete Cunha que chegou a ficar ferida durante a chacina vive longe de Alagoas. Ela reconheceu um dos pistoleiros e deve comparecer ao julgamento.
Uma série de recursos impetrados adiou o julgamento, mas em janeiro deste ano o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) “abraçou” a causa e um dos casos que mais suja a história de Alagoas finalmente parece que caminha para seu desfecho.
No dia 5 deste mês o juiz federal titular da 1ª Vara, André Luís Maia Tobias Granja realizou audiência de sorteio dos 25 jurados para o Tribunal do Júri que vai julgar os acusados pela morte da deputada federal. No dia do julgamento dentre esses 25 jurados sorteados, serão escolhidos por sorteio os sete que vão compor o Tribunal do Júri.
Defesa e acusação
O advogado Welton Roberto que atua na defesa de Talvane Albuquerque diz que está preparado para o julgamento, uma maratona que pode levar até três dias. Ele se queixa que houve atropelo no procedimento para marcação do julgamento. “Marcaram o julgamento sem terem sido esgotados os recursos”, declarou.
Diante da incontestável comoção popular sobre o caso, o advogado diz que são legítimas as manifestações, mas que o júri não pode se deixar levar. “Não há prova que coloque o Talvane como autor intelectual ou material do crime. O que há é só conjectura porque ele era suplente da Ceci”, declarou o advogado.
Welton Roberto demonstrou preocupação ao revelar que “fatores externos podem contaminar o júri”. “Vamos conversar com o juiz e não vamos permitir que entrem na sala de julgamento pessoas com camisas e cartazes. Isso pode afetar os jurados mais inexperientes”, disse.
O advogado José Fragoso contratado pela família de Ceci Cunha declarou que também está preparado para atuar no julgamento. Ele revelou não ter dúvida da condenação. “Eu não tenho nenhuma dúvida que todos os acusados serão condenados. As provas contra o Talvane e os assessores são gritantes, em face do que foi apurado pelas polícias civil e a federal”, disse.
Segundo Fragoso, está comprovado nos autos que inicialmente Talvane montou um plano para assassinar o então deputado federal Augusto Farias e como não conseguiu arquitetar o crime, determinou que assassinassem a Ceci e quem tivesse com ela. “Os depoimentos passam todos os detalhes. O motivo era para assumir a vaga de Ceci como deputado federal”, acrescentou o advogado.
Sobre a demora no andamento do processo, José Fragoso diz que se deu por dois fatores. “Acredito que é porque se iniciou na Justiça Estadual, mas o que mais fez atrasar o processo foi o número de recursos impetrados pela defesa. Não é a comoção popular que vai levar os acusados para o cárcere, mas sim as provas colhidas”, disse fragoso.
O ex-deputado federal Talvane Albuquerque atualmente trabalha em Paulo Afonso no Hospital Nair Alves de Souza.
O médico, acusado pelo MPF de ser o mandante da chacina, trabalha no Hospital Nair Alves de Souza, em Paulo Afonso, desde o dia 1º de junho de 2011. Ele foi localizado pela equipe do Fantástico por telefone e disse que é inocente.
Por telefone, o Fantástico localizou o ex-deputado, que trabalha como médico em dois hospitais, um em Arapiraca, Alagoas, e outro em Paulo Afonso, na Bahia.
Pela suspeita de envolvimento nos assassinatos, ele teve o mandato cassado em 7 de abril de 1999. No dia seguinte foi preso, e só saiu da cadeia em março do ano seguinte. Ele não quis gravar entrevista, mas disse que é inocente.
Talvane Albuquerque: Essa é uma acusação pesada da qual eu vou me livrar. Não existem provas, não existem provas.
Fantástico: O senhor tem a consciência tranquila, doutor?
Talvane Albuquerque: Graças a deus. Tranquilíssima.
O advogado que responde pela defesa de Talvane Albuquerque também diz que não há provas de que o ex-deputado tenha encomendado a morte de Ceci Cunha.
“Há uma prévia condenação social, isso nós não temos dúvida, vamos enfrentar isso com muita clareza, com muita serenidade, com muita coragem também”, destaca Welton Roberto, advogado.
Com informações da gazetaweb.globo.com