Prefeitura suspende atividades, em decorrência da infecção de servidores pela covid-19
Coelba, BNH, saudades sem par
Eu tinha vinte anos. Acabara de prestar o serviço militar na Marinha do Brasil. Agora cidadão completo, cumpridor dos meus deveres cívicos, era hora de partir para ganhar a vida.Entrei no Setor de Pessoal da CEEB (Companhia Energia Elétrica da Bahia) e, sem escrúpulos nem pudicícia, me dirigi a Carlitos, o encarregado: “Eu soube que vocês estão fazendo seleção, posso tentar?”. Hoje, eu entendo o que Carlitos sentiu no momento. (Eu tinha apenas 20 anos, era apenas um menino franzino e medroso nos tempos em que não havia a possibilidade de processar alguém por bullying). “Pode”, respondeu o meu interlocutor. Dentro de uma semana estava eu, morrendo de medo, na selva entre 14 outras feras, todos de idade maior, de paletó e gravata nas Folhas de Pagamento da atual Coelba. Lá fiquei por quase dois anos e só saí para estudar e porque, no fim do mês, o dinheiro recebido dava apenas para comprar uma camisa.
Ah! ah!, esse foi o começo. Essa era a Coelba. Hoje, ainda como empregado da Chesf, presto serviços de comunicação social no IFBA, localizado no prédio do antigo Colepa glorioso dos bons tempos da Chesf nossa mãe. Saio de manhã e volto depois do meio-dia para o BNH onde moro. Não me deram uma casa no Acampamento – eu era muito insignificante -, e eu tive que comprar a minha no Bairro [do doutor] Amaury Menezes. O IFBA fica na Avenida Marcondes Ferraz, muito bem cuidada, moradores caprichosos. De volta para casa, saio de lá, deslizo ao longo do Bairro Abel Barbosa, passo por casas novas caprichadas, beiro, outra vez, do outro lado, o Loteamento Panorâmico, e vejo casas mais caprichadas ainda.
Nós do BNH não somos tão caprichosos assim. Não somos. Poderíamos ser, considerando que o nosso gosto estético não fica, em tese, atrás do de ninguém. As nossas calçadas, largas de dar prazer, talvez por isso sejam desprezadas; esquecidas. Na frente de cada casa, um monturo, pedras sem razão, troços velhos – e horrorosos – e por aí poderia seguir a nossa cantilena (nossa porque estamos, neste parágrafo, em uma conversa honesta dentro do muro). De minha parte, como um, tenho pressionado o senhor prefeito para asfaltar o nosso bairro. Quase tudo está asfaltado na cidade. Menos o BNH! Ainda entre nós, fico com medo de o prefeito argumentar a nossa falta de zelo, nós mesmos, pelo que é nosso.
BNH e Coelba. No BNH, a Coelba andou trocando postes. Arrebentou as nossas calçadas (já são meses), nelas deixou para trás os escombros, e – e, dá para acreditar?! – foi embora. Para tirar o carro da garagem, tive de rastelar os restos de pedras, eu mesmo, da frente. O entulho acumulado foi retirado por uma carroça de burro paga por mim em parceria com o vizinho. A recomposição deixou alguns calos na minha mão como lembrança.
Pergunto ao leitor, ou a quem tiver uma resposta convincente: tem que ser assim? O site publica declaração do deputado José Carlos Aleluia com respeito ao aumento de quase 50% da conta de luz. O meu último recibo acusa um montante pago acima de 400 reais; apenas um casal sem filhos e nenhum aparelho de ar condicionado funcionando. A nossa contribuição para o ajuste fiscal do Governo Federal já está sendo cobrada – leia-se arrancada – antes mesmo da aprovação pelo Congresso Nacional.
Freio de arrumação e parada brusca. De decepção em decepção, vamos vivendo em um Brasil que insiste em ficar para trás.
Francisco Nery Júnior