Morte por espancamento

 Morte por espancamento

O povão cansado de ser enganado pegou os dois assaltantes, tirou a roupa de um deles, amarrou num poste e o espancou até a morte. [Isto] aconteceu no Maranhão e está no site. Chocante. Provoca voltas no estômago. Nos remete à Idade Média, como à Idade Média, talvez mais para trás, nos remetem os seus atos. Alguém provavelmente foi ameaçado [por eles], aviltado, surrupiado, roubado, humilhado, ou mesmo morto. Salvo erro, engano ou omissão, pela observação da foto, o ladrão trucidado era negro. O que restou apenas amarrado na calçada do Maranhão esquecido pelo Estado brasileiro, de maioria negra, não era negro, pelo menos totalmente de cor escura; diga-se de passagem.

O pobre coitado – o emprego do termo pobre se refere às circunstâncias que o levaram a ser ladrão – deve ter tentado roubar meras quinquilharias (pode, entrementes, ter usado de violência). O crime deve ter sido apenas de tentativa de roubo ou mero furto. Não deve ter tido a intenção de formar quadrilha nem de solapar pesadamente os cofres públicos. Não enganou as multidões com a conversa barata de ter nascido na pobreza do Maranhão. Não se aliou a outros corruptos de influência no Brasil dos brasileiros. Não –  ah, nem imaginar! – fundou firmas de “consultoria” ou institutos para aprofundar os mecanismos de surrupio do dinheiro público. Não usou de trejeitos políticos ou de erros de gramática ou erros de sintaxe para posar de ingênuo, enquanto vislumbrava encher os bolsos.

O pobre diabo não procurou convencer a sociedade que o mal que o aprisionou era uma pequena onda. Não garantiu de cara feia que “não vou cair”. De certa forma, assumiu a sua desdita. Tentou o roubo, foi amarrado, deve ter olhado de frente para os seus algozes, não deve ter gritado gritos de dor envolvidos em um falso arrependimento e… morreu. Saiu de cena e, diriam os menos sensíveis, nos deixou em paz.

Nada mais a dizer para o leitor ligado de Paulo Afonso. Nada, absolutamente nada. Os fatos falam por si. A mão pesa sobre o teclado, cansada de digitar gritos de dor, decepção e desalento de toda uma nação. Vamos ficar por aqui.

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Francisco Nery Júnior

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