As tratativas do senhor Delcídio. Enquanto isso…

Vamos chamar tratativas. E não vamos adjetivar. A adjetivação fica a critério do leitor. Delcídio, senhor líder do governo no Senado, foi gravado em tratativas que envolvem Nestor Cerveró, preso pela Operação Lava Jato. Todos sabemos que a roubalheira na Petrobras não quebrou a empresa porque ela é forte demais para ser quebrada. Os quinhentos bilhões de débito não conseguiram quebrar a Petrobras. Nós, enquanto isso, vamos ter que pagar o preço da (s) falcatrua (s).  Já estamos pagando. Se olharmos o preço da gasolina na bomba, verificamos que já estamos pagando.

Delcídio, líder do governo, com acesso e contato diretos com a presidente da República – ele era o líder -, está na cadeia por solicitação do Procurador Geral da República com autorização do Supremo Tribunal Federal – por unanimidade da turma. O partido majoritário já se distanciou dele. As “tratativas” seriam negócios pessoais de um tal senhor Delcídio. Os termos estão publicados para quem quiser ouvir.

Evidente que já passou da hora de acontecer uma mudança radical no Brasil. Em países do chamado primeiro mundo, principalmente os de regime parlamentarista, algo fundamental já teria acontecido. O país não pode sangrar indefinidamente. A economia, que se confunde com a política, vive e se baseia na expectativa. Do jeito que as coisas estão, ela se contrai. Os investimentos são estancados e o processo regressivo se instala.

Enquanto isso, sangrando, vamos parando. A infraestrutura do país não recebe investimentos. A senhora presidente da República não é má. Ela simplesmente não dispõe de recursos para investir. Os recursos são destinados ao assim chamado superávit primário. Trocando em miúdo, a sangria dos nossos bolsos é destinada ao pagamento dos juros [indecentes] da dívida interna do governo brasileiro que está na estratosfera.

Enquanto isso, fui aposentado com 900 reais por mês. Alguém que por mais da metade do tempo de contribuição recolheu ao INSS, mensalmente, a contribuição máxima recebe, como aposentado, pouco mais de um salário mínimo. Essa pessoa está pagando pela gestão desastrosa da economia brasileira. Trabalhadores como o cronista estão condenados a viver com 900 reais por mês por conta de uma medida provisória editada e feita aprovar pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Segundo ela, a média de cálculo para aposentadoria deve ser tirada desprezando as contribuições anteriores a 1994. Como a constituição de 1988 classifica a previdência como solidária, ninguém conseguiu reverter essa situação na justiça. O ex-presidente, filho de general, sociólogo estilizado, às vezes áspero e pedante, está bem aposentado e mora em um apartamento de luxo.

Enquanto isso, o povão, principalmente os que não têm a mínima condição de se defender, pena nas filas do INSS e dos hospitais brasileiros, alguns dos quais não têm a mínima condição de atendê-los.

A coisa está esquentando. Tratativas e conluios começam a aflorar. Tudo começou com um juiz corajoso do Paraná. Cremos que a gota d’água pingou. A taça vai transbordar.

Por 53 a 13, com duas abstenções, o Senado manteve a prisão preventiva do ex-senador Delcídio (cremos que o povo não o tolerará como senador). Assustados e perplexos, todos posaram de provedores do cumprimento da lei. Delcídio deve estar dizendo para muitos do poder o “Eu sou você amanhã”. Temos (os senadores mantiveram) o líder do governo na cadeia.

Enquanto isso, ficamos, de decepção em decepção, a aguardar o Brasil do futuro.

Francisco Nery Júnior