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Com a virada do ano, mais cuidado ao julgar
A virada do ano nos faz prometer. Tarefas cumpridas no que foi possível cumprir, mais frágeis porque cansados após doze meses de trabalho duro, renovamos as promessas. Amanhã será Ano Novo. Carece mais uma vez prometer. De promessa em promessa, vamos vivendo a vida que Deus nos deu. Prometamos, por exemplo, mais cuidado no nosso julgar. Sejamos menos impiedosos em relação ao próximo. Em julgando, podemos arruinar a sua vida e a de muito mais gente. Os parágrafos seguintes são a tradução de pequenos excertos do livro O Último Dia de um Condenado de Victor Hugo.
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Que isto que aqui escrevo possa um dia ser útil para outros. Que possa interromper o juiz pronto para julgar. Que possa salvar os infelizes, inocentes ou culpados, da agonia à qual estou condenado.
O sol, a primavera, os campos cheios de flores, os pássaros que despertam todas as manhãs, as nuvens, as árvores, a natureza, a liberdade, a vida, tudo isso não mais me diz respeito.
Acabo de fazer o meu testamento. Para que serve se estou condenado e tudo que tenho mal pagará as custas do processo? A guilhotina é muito cara. Deixo uma mãe, deixo uma mulher, deixo uma filha. Uma menina de três anos, doce, rosada, frágil, de grandes olhos negros e longos cabelos castanhos. Ela tinha apenas dois anos e um mês quando a vi pela última vez.
Assim, após a minha morte, três mulheres, sem filho, sem marido, sem pai; três órfãs de diferentes espécies. Três viúvas por causa da lei.
Eu admito que seja justamente punido. Estas inocentes, que mal fizeram? Não importa. A elas está destinada a desonra e a ruína. É a justiça.
Alguém poderá argumentar que a matéria – não estamos mais a traduzir Victor Hugo – é inconveniente no momento em que a violência é crescente no Brasil e quando a justiça começa a se impor para ricos e pobres, grandes e pequenos. Mas também devemos sempre considerar a conveniência da aplicação da lei; cuidados, ponderação, dosagem, temporalidade, consequências.
Construímos as nossas posições. Erigimos os nossos dogmas. Condenados nós mesmos, os manteríamos intactos? Então, em 2016, mais tolerância e entendimento. Jamais perder a ternura.
Francisco Nery Júnior