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Juiz manda prender o marqueteiro que levou Dilma Rousseff à reeleição

A 23ª fase da Operação Lava Jato sacudiu na segunda-feira (22) o sistema político brasileiro, já ameaçado de ser dissolvido pela ação da polícia e da justiça. Ao todo, na operação apelidada como “Acarajé”, cumpriu 58 mandados, oito pedidos de prisão temporária e preventiva em três estados (São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia).
No centro da Operação Acarajé está João Santana, um nome responsável por boa parte da narrativa que fez do PT um partido vitorioso em sucessivas eleições presidenciais. É uma das maiores bombas políticas jamais detonadas pela Lava Jato.
O empresário Zwi Skornicki chegou na noite de segunda-feira (22) à sede da Polícia Federal em Curitiba. Ele teve a prisão preventiva decretada e bens apreendidos como uma coleção de carros, um barco e R$ 300 mil em espécie. Apontado como responsável por repassar propina no esquema da Petrobras, Zwi já era conhecido dos investigadores.
Em fevereiro do ano passado, a polícia apreendeu obras de arte e documentos na casa dele. E foi um desses documentos que deu início à 23ª fase da Lava Jato. Uma carta escrita a mão mostrou que o operador tinha ligações com o marqueteiro do PT, João Santana.
A carta tem a assinatura de Mônica Santana, que de acordo com os investigadores, é Mônica Regina Cunha Moura, mulher de João Santana. Os destinários eram Zwi Skornicki e o filho dele, Bruno.
O texto diz: “Mando cópia do contrato que firmei com outra empresa como modelo. Acho que o nosso pode ser simplificado, este é muito burocrático, mas vocês que sabem. apaguei, por motivos óbvios, o nome da empresa. Não tenho cópia eletrônica por segurança. Espero notícias. Seguem também os dados de minha conta com duas opções de caminhos: euro ou dólar. Vocês escolhem o melhor”.
Para o juiz Sérgio Moro, ao apagar o nome da empresa e não ter cópia eletrônica, Mônica mostra a consciência da ilicitude das transações. Na sequência, aparecem na carta o nome de uma empresa do Panamá, a Shelbill S.A., junto com dados bancários de contas em Nova York e Londres. Sérgio Moro disse que há provas de que a Shellbill era utilizada pelo casal e que recebeu recursos do esquema criminoso da Petrobras.
O publicitário João Santana e a mulher tiveram as prisões temporárias decretadas. Os dois estão fora do país, na república dominicana, mas devem se entregar a polícia nas próximas horas.
Os pagamentos sob suspeita somam US$ 7,5 milhões e teriam sido desviados de contratos da Petrobras. A Polícia Federal diz que os repasses vieram de Zwi e de empresas no exterior ligadas à Odebrecht.
“Os contratos indicam claramente uma origem ilícita e nós estamos investigando porque Zwi está envolvido na corrupção da Petrobras. Pode eventualmente ser destinado a serviços de caixa 2, serviços prestados para a campanha de partidos políticos e de outras pessoas, mas também estamos dizendo que há um indicativo claro de que esses valores tenham origem na corrupção da Petrobras”, explica Carlos Fernando dos Santos Lima, procurador da República.
A defesa de Zwi Skornicki disse que só vai falar nos atos do processo. Para o juiz Sérgio Moro, há fundada suspeita de que os pagamentos feitos por Zwi seriam de serviços prestados ao Partido dos Trabalhadores. O PT reafirmou que todas as doações foram feitas dentro da lei e declaradas à Justiça Eleitoral.
“O João Santana, no caso especificamente de Zwi Skornick, tinham conhecimento tudo leva a crer da origem espúria do recurso. Até pelo método, utilização de contas no exterior para recebimento de recursos para celebração de contratos ideologicamente falsos”, diz o delegado Felipe Pace.
Os policiais federais também encontraram referências a João Santana no celular de Marcelo Odebrecht, presidente afastado da empreiteira, preso em Curitiba desde junho do ano passado. Os investigadores dizem que Marcelo usava um apelido para falar do publicitário.
O juiz Sérgio Moro afirma que nas anotações há várias referências a pagamentos para “feira”, uma provável referência a João Santana, um jogo de palavras com o nome da cidade baiana de Feira de Santana (BA).
A referência à “feira” também aparece em uma planilha de pagamentos de campanhas eleitorais encontrada no e-mail secreto de um ex-executivo da Odebrecht, Fernando Migliaccio, que também teve a prisão decretada, mas está fora do Brasil.
O apelido do publicitário aparece na planilha ao lado de valores que somam R$ 26 milhões. Já a sigla “JD” aparece quatro vezes acompanhada de valores que chegam a R$ 48 milhões.
Para os investigadores, “JD” é o ex-ministro José Dirceu, também preso na Lava Jato. O advogado dele disse que todas as operações do cliente foram declaradas. De acordo com os procuradores, Marcelo Odebrecht tentou atrapalhar as investigações mandando para fora do país dois ex-executivos da empresa, um deles Fernando Migliaccio.
“Indicativos claros de obstrução por parte da empresa e especificamente do seu principal executivo, Marcelo Odebrecht, no sentido de retirar do Brasil pessoas que nós hoje identificamos como responsáveis por pagamentos no exterior”, explica Carlos Fernando Lima, procurador da República.
As defesas de Marcelo Odebrecht e da empresa informaram que só vão se manifestar quando tiverem acesso aos elementos da investigação.
G1/ Malu Mazza