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Aids: número de mortes tem redução de 7,2% desde 2010 na Bahia
O número de mortes por Aids na Bahia registrou uma queda de 7,2% desde 2010, segundo dados divulgados pela Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab). Em 2010, foram 537 mortes (354 homens e 183 mulheres). Já em 2016, o número caiu para 498 (314 homens e 184 mulheres).
O número de casos notificados no estado, desde 2010, também sofreu queda, de 36%. Na Bahia, desde o primeiro caso notificado, em 1984, até 2016, foram 30.382 registros. Desses, 19.135 (62,9%) do sexo masculino e 11.247 (37%) do feminino. A taxa de detecção de Aids, por sua vez, apresenta tendência de crescimento. Observa-se, em 2010, uma taxa de 12,9 e em 2015 de 13,4 casos por 100 mil habitantes.
Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), que apresentou números sobre a Aids nesta quinta-feira (20), as mortes relacionadas à doença diminuíram no planeta, alcançando um milhão de pessoas no ano passado (2016), a metade do número registrado em 2005. Para o Brasil, no entanto, sobrou um alerta: o total de novas infecções a cada ano no país aumentou em 3% entre 2010 e o ano passado, ao mesmo tempo em que, na média mundial, essa taxa sofreu contração de 11%.
Segundo a diretora da Vigilância Epidemiológica da Sesab, Maria Aparecida Figueredo, é importante fazer uma mobilização entre os jovens para o uso de preservativos durante as relações sexuais. “Tem que usar realmente o preservativo, e fazer uma mobilização principalmente com os jovens. Há um ‘relaxamento’ de não usar métodos de prevenção, e isso é que preocupa”, explica. Ela ressalta ainda que a Aids não tem cura. “O remédio aumenta o tempo de sobrevida e melhora a qualidade de vida, mas Aids não tem cura, e a pessoa vai continuar infectada e usando medicamento pelo resto da vida”, alerta.
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A diretora da Vigilância em saúde da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), Geruza Moraes, destaca que existe a distribuição de preservativos na rede pública de saúde. “Como não se tem mais o quadro de Aids, de pessoas morrendo por causa da doença, as pessoas baixaram a guarda, não estão mais se protegendo, por isso vemos o aumento em pessoas jovens e adultos mais velhos”, observa.
Mortes por Aids
Apesar do alerta da ONU, a elevação no número de casos no país é considerada pequena, passando de 47 mil novos casos em 2010 para 48 mil em 2016. O Ministério da Saúde alegou que a grande população brasileira causa distorções na análise da ONU. Ainda segundo a pasta, para efeitos de estudos e de comparação, seria melhor utilizar taxas de detecção da doença, obtidas pela divisão do número de casos pelo número de habitantes. Assim, ao contrário da divulgação da ONU, os dados epidemiológicos do Brasil indicariam a estabilização da epidemia, com viés de queda.
Os números divulgados pela ONU fazem parte de um documento da Unaids (organismo da entidade específico para lidar com a epidemia da doença) que será uma das bases de discussão para o congresso internacional sobre a Aids que começa no domingo (23). A diminuição das mortes é atribuída a uma melhor difusão dos tratamentos com remédios antirretrovirais. O número de soropositivos com acesso a esses remédios, em todo o mundo, superou, em 2016, os 50%, o que ocorre pela primeira vez desde o início da epidemia.
Por isso, o documento considera que o mundo atingiu um ponto de virada em relação à doença, com mais de metade dos doentes em tratamento e com uma contínua diminuição das novas infecções. Como argumento para a tese, o texto chama atenção para o fato de que em 2016 o número de mortes causadas pela Aids – 1 milhão – é quase metade das registradas em 2005, 1,9 milhão.
Aids entre jovens
A médica Stella Regina Taquette, que é professora e pesquisadora da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, explica que o acrescimento da Aids entre jovens é uma preocupação ainda maior. Confira abaixo entrevista com ela e tire suas dúvidas:
A que podemos atribuir o aumento dos números de casos de Aids entre jovens e adolescentes?
É preciso ter clareza que o que diferencia a epidemia de Aids em adolescentes da epidemia em outras faixas etárias é o maior número de infectados ser do sexo feminino (nas outras faixas etárias o número de casos em homens é maior) e o aumento entre homens que fazem sexo com homens (nas outras faixas etárias está diminuindo). Em meus estudos pude observar que um dos fatores que contribuem para a maior vulnerabilidade de adolescentes de ambos os sexos é a descrença na possibilidade de contaminação, característica do pensamento abstrato ainda incipiente entre eles e a sujeição sexual (quando não se tem domínio ou escolha consciente do ato sexual ou se é vítima de violência).
O que faz com que as meninas sejam mais vulneráveis?
Nas meninas outros fatores aumentam a vulnerabilidade: a baixa idade da iniciação sexual (menor que a média brasileira), a dificuldade de negociação do uso de preservativo pela desigualdade de gênero e parceiros promíscuos ou usuários de drogas injetáveis. Nos rapazes, as situações de vulnerabilidade estão associadas também a: homofobia (que discrimina, segrega e isola socialmente aqueles que têm sexualidade diversa do padrão heteronormativo da sociedade) e a exploração sexual comercial.
Quais são as diferenças entre essa geração de jovens e a geração que conheceu a Aids nos anos 1980?
A geração atual não conheceu a Aids doença fatal e incurável. A Aids hoje é uma doença crônica que tem tratamento. Os doentes de Aids não têm a mesma aparência grave que os da geração de 80. A mortalidade por Aids e sua gravidade diminuíram vertiginosamente após o advento do tratamento antirretroviral.
Além da Aids, há notícias de outras doenças que podem ter voltado a crescer nos últimos anos, especificamente entre jovens e adolescentes?
As doenças sexualmente transmissíveis (DST) têm alta prevalência entre adolescentes. Muitas são assintomáticas, principalmente no sexo feminino. Isso acontece por vários motivos. Poderia destacar a erotização precoce de nossa sociedade que estimula adolescentes a terem sexo; o machismo e a violência de gênero que expõem tanto homens quanto mulheres a um maior risco de DST pela multiplicidade de parcerias entre os homens e a desigualdade de poder na relação entre as mulheres que dificulta a negociação do uso do preservativo; a falta de uma cultura de autocuidado à saúde principalmente por parte dos homens; a pouca disponibilidade de serviços públicos de saúde sexual e reprodutiva para adolescentes, entre outros.
Como os pais e educadores podem tratar desses assuntos com os filhos?
Devem tratar abertamente sem tabus e preconceitos, serem bons ouvintes, sem fazer julgamentos do que é certo ou errado. Os adolescentes têm muitas dúvidas e inquietações e são muito permeáveis às influências dos grupos de iguais e da sociedade em geral. Se os adultos se dispuserem a ouvi-los com real interesse em ajudá-los poderão contribuir para que tenham atitudes de maior proteção e segurança que os coloquem em menor risco à saúde. Os pais e educadores devem procurar ajuda de profissionais competentes quando não se sentirem em condições de tratar estes temas com seus filhos e alunos.