Poder de famílias no interior da Bahia será posto em xeque nas eleições

 Poder de famílias no interior da Bahia será posto em xeque nas eleições

Crédito/PA4.COM.BR

Luiz Humberto deverá manter tradição política da família

Dourado, Sobral, Pinto, Menezes, Carneiro, Lomanto, Coelho, Argôlo, Andrade, Brito. Mais do que identidade pessoal, esses sobrenomes simbolizam poder e influência em determinadas regiões do interior da Bahia, em função do histórico de suas famílias na política local e estadual. Em outubro deste ano, membros desses e de outros clãs vão tentar se fortalecer ou até mesmo ressurgir para manter viva a biografia familiar na vida pública.

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CORREIO levantou 25 famílias políticas em ascensão ou em queda, além daquelas tradicionais que permanecem fortes em seus redutos. Dentre elas, somente os clãs de Deus, da região de Paulo Afonso; Coelho, de Guanambi; e Argôlo, de Entre Rios, não devem ter candidato este ano. Em Paulo Afonso, os filhos dos irmãos Luiz (do PSD, atual prefeito da cidade) e Paulo de Deus (PMDB) não têm pretensões políticas e a tradição da família deve ser passada para Luiz Humberto, genro do prefeito.

Após perder a eleição em Guanambi, ano passado, o ex-governador Nilo Coelho (PSDB) não deve voltar à corrida eleitoral em 2018. Em Entre Rios, com a prisão do ex-deputado federal Luiz Argôlo, o clã local não deve lançar candidato. Nos demais, filhos, sobrinhos e irmãos se preparam para entrar no páreo por uma vaga na Assembleia Legislativa ou da Câmara dos Deputados.

Tradição

Uma das mais tradicionais e antigas famílias da política baiana é a Dourado, de Irecê. Tanto que fez o primeiro prefeito da cidade, na década de 1930 – Ineny Dourado, nome de escolas e ruas nos municípios da região. Na região, a cidade de João Dourado homenageia o coronel homônimo, que se destacou na região no século XIX como precursor do presbiterianismo e se implantou na área em que hoje está o município.

O último integrante do clã a comandar a prefeitura de Irecê foi José Carlos Dourado das Virgens, o Zé das Virgens, que trocou o PT pelo PCdoB. Ele deixou o poder em 2012, após  ser derrotado por Luizinho Sobral (Podemos), integrante da família rival dos Dourado. As duas disputam há décadas o comando da cidade, seja com candidatos “puro-sangue” ou apoiados por elas.

Além de Luizinho, os Sobral têm histórico de poder na região tão longo quanto os Dourado. O pai de Luizinho, Luiz Sobral, já foi prefeito da cidade e deputado estadual. Henrique Sobral (sobrinho de Luiz) e Ivone Sobral (esposa) também já tiveram atuação política como candidatos a vereador e prefeita.

No outro lado, um dos destaques foi Joacy Dourado, que também foi prefeito da cidade e deputado estadual. Em 2018, Luizinho e Zé das Virgens devem ser candidatos a deputado estadual e lutam para manter vivos os legados dos respectivos clãs. Com as pré-candidaturas lançadas, eles disputam os votos das cidades da região.

Herdeiro político de outro tradicional clã político, o deputado estadual Leur Lomanto Júnior (PMDB) deve tentar uma vaga na Câmara em 2018. Com atuação na região de Jequié, ele é neto de Antônio Lomanto Júnior, que passou por todos os cargos eletivos possíveis, com  exceção de presidente da República.

Em baixa

Outrora poderoso, o clã político dos Carneiro de Feira de Santana, liderado pelo ex-governador e ex-senador João Durval (PDT), viu como último representante eleito o ex-prefeito de Salvador João Henrique Carneiro (PR), derrotado na disputa pela Câmara de Vereadores ano passado. A esperança da família para 2018 é o secretário de Meio Ambiente de Feira, Sérgio Carneiro (PV), que deve tentar retornar à Câmara dos Deputados.

Ao mesmo tempo, há ainda os clãs que tentam retomar o poder, como os Pinto, que detinham no Extremo-Sul, como Porto Seguro. Hoje, o único representante é o deputado federal Uldurico Pinto Júnior (PV).

Para o cientista político Paulo Fábio Dantas, a política atual superou o coronelismo e já não é guiada pela lógica familiar. “Não significa dizer que não existam as elites familiares. Mas a lógica predominante é a competição de partidos. O conceito de familismo não explica mais a política”, enfatiza.

O também cientista político Joviniano Neto acredita que a urbanização e as redes sociais levaram o eleitor a ficar mais independente. “Nas cidades menores, contudo, a relação com as famílias políticas é maior”, afirma.

“Eles são vistos como capazes de proteger a comunidade, mas as pessoas buscam outras referências”, diz Joviniano Neto

Antigas e novas famílias no Extremo-Sul e Norte baianos

No ano passado, as cidades de Paulo Afonso e Campo Formoso foram alvo de disputa ferrenha entre famílias. No Norte, os irmãos Luiz e Paulo de Deus bateram chapa na corrida pela prefeitura, vencida pelo primeiro. Apesar disso, a relação familiar deles não foi abalada pela disputa política. Vizinhos, eles têm fazendas próximas na cidade. A disputa familiar ocorreu por conta do não cumprimento de acordos feitos entre os dois em eleições passadas, o que levou a um desentendimento.

Em Campo Formoso, a disputa se deu entre Rose Menezes (PSD), irmã do deputado estadual Adolfo Menezes (PSD), e Elmo Nascimento (DEM), irmão do deputado federal Elmar Nascimento (DEM). Primos distantes, eles entraram no embate pelo poder municipal, vencido por Rose.

A família Menezes já teve o pai de Adolfo como prefeito da cidade e o irmão, Herculano Menezes, como deputado estadual. Herculano foi morto em 1998 durante um comício, o que levou Adolfo ascender à Assembleia para manter a vaga da família.

No Extremo-Sul, duas novas famílias tentam ascensão na política baiana em 2018. Prefeito de Teixeira de Freitas, Timóteo Brito, que já foi deputado estadual, estuda lançar o filho Léo Brito (PSD), prefeito de Alcobaça, para a Assembleia.

Na região, a família ainda conta com a prefeita de Prado, Mayra Brito (PP), prima de Timóteo e filha do ex-prefeito da cidade, Wilson Brito, que já comandou duas secretarias no governo do estado durante a gestão do ex-governador Jaques Wagner (PT).

Já o deputado federal Ronaldo Carletto (PP), que tem ganhado força política na disputa pela vaga pelo Senado, planeja lançar o sobrinho Netto Carletto, presidente do PP Jovem, na corrida eleitoral.

No Recôncavo, a família Andrade tem como possível representante na disputa eleitoral Rogerinho Andrade  (PSD), cujo pai, Rogério Andrade, é ex-deputado estadual e atual prefeito de Santo Antônio de Jesus. O avô, Aloísio Andrade, já foi prefeito de Elísio Medrado.

Já o senador Otto Alencar (PSD) deve lançar Otto Filho, presidente da Desenbahia, o irmão Eduardo Alencar, ex-prefeito de Simões Filho, a deputado federal e estadual, respectivamente. Outro integrante de um clã político do interior, o deputado estadual Reinaldo Braga (PSL), cujo filho, Reinaldo Braga Filho (PMDB), é prefeito de Xique-Xique. Este ano, o patriarca da família tentará se reeleger.

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1 Comment

  • Esse contexto de perpetuação político-familiar e agregados, é fruto de um projeto de oposição “fraco”. Existe aquela coisa do ego e enquanto isso os “deuses” continuam ditando as regras do poder local. Tanto é que somados os resultados do último processo eleitoral municipal o que restou de um projeto de oposição foram pouco mais de 10 mil votos. Isso é fato, pois a “divisão” entre os irmão não passou de uma inteligente estrategia política. Talvez o Luiz Humberto esteja de fato buscando musculatura para se credenciar como real herdeiro do “trono”, mais vale salientar que a ressente passagem do atual vice prefeito Flávio Henrique pode pesar sobremaneira na próxima formação de chapa. O Flávio não é de bastidores e vem nos últimos anos mostrado se um eximiu articulador político. Não serei pego de surpresa caso surja uma chapa “Flavinho e Luizinho” como assim são chamados pelos mais íntimos. É o fato de serem as figuras que detêm credibilidade e confiança dentro do grupo liderado por Luiz de Deus. Para mim que estou de fora mais sempre acompanho o desenrolar político de nossa querida Paulo Afonso e sempre estive presente no embate político junto a ala oposicionista. Vejo com uma tristeza profunda o fato de não temos conseguido constituirmos um projeto político com reais condições de um embate entre iguais. O retrato de “oposição” é uma bancada parlamentar pouco propositiva que arrisco dizer que apenas um edil de primeiro mandato tenta a duras penas se sobressair.

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